20 de junho de 2016

Cíclica

A insônia se frutifica
pelo samba e pelo amor
e pela química.

Dízima

Quanto tempo faz
que as horas não importam mais?

Há quantos risos que não nos vimos?
Há quantos beijos que não nos demos?
Há quantas histórias que não nos contamos?
Há quantos jejuns que não nos comemos?
Há quantas canções que não nos amamos?
Há quantas questões que não respondemos?
Há quantos problemas que nós não lidamos?
Há quanto de nós nos pés desta estrada?

E quantos nós ainda temos?


Limpeza

Reflito
estarrecido.
Arrefeço.

Refaço
o que há de mal feito.

Reviso a lida.
Dispenso as dissonâncias. Retiro excessos
compasso a compasso.
Pauso.

Reflito.

Escrevo um verso de amor no espelho
com meu dedo sangrento.

Espero exausto.
Exaspero.

Meu sangue seca.
O verso estanca.

Adormeço no chão do banheiro
e tenho sonhos limpos.

Latindo Moderno

Os Ministro do Supremo
usa uns termo
tão sinistro
que além de soar esquisito
até eles mermo
fica se mordeno

de dentro do terno.

A Cena

Os políticos
são os atores brasileiros que
mais tem lucros com a dramaturgia,

embora façam um uso tão sujo do palco,
envenenem o encanto da cena,
apodreçam os frutos do ato,
furtem a arte
descaracterizem a técnica
escancarem um novo caráter
de seu personagem
a cada fala
e raramente entrem em cartaz
nos finais de semana.

O congresso nacional
é o maior teatro deste país
e ainda assim não merece
ter seu nome grafado
em letras maiúsculas.

Não Neste Texto Honesto!
Não Nesta Poesia de Luta!
Não Neste Verso de Luto!

12 de abril de 2016

Periódica

Mandei nudes
e nada.

Nenhuma resposta
aos meus áudios.

Já misturei mel de abelha
com bicarbonato de vários
reagentes diferentes.

Diversos. Inúmeros. Líquidos e sólidos.

E o máximo que consegui
foi extrair dióxidos
de carbono e água.

A poesia talvez também reaja assim
com ácidos.

Será que isso tem sido sadio?

Serão só sinais da saudade
ou minha ansiedade
desfilando nua
aos olhos do tédio?

Será que devo fazer um vídeo?

São duas da madrugada... 

Já mandei até nudes e nada!

20 de março de 2016

Concessão

Lembro que esse poema começava diferente,
mas a TV veio e mudou.
Lembro que havia um verso espalhafatoso no meio,
mas a TV veio e cortou.

É a segunda vez
que ela resolve
cantar de galo no meu viveiro.

Logo ela que une as goelas de um país inteiro,
imenso, poético,
também quer intervir
em assuntos poêmicos.

28 de fevereiro de 2016

Duetto

Tua beleza
desliza das estrelas
e dá cambalhotas
no chão dos meus olhos.

Tua arquitetura é tão doce
que desestrutura a minha saliva.

Tua presença
é privilégio
da minha vigília

no dueto perfeito e predileto
do dialeto profundo e sigiloso

entre o silêncio da lua
e os pensamentos que me navegam
quando a madrugada geme.

Pousa

Sorriso mais largo que a própria cintura,
pousa

como queda d’água
em minha cabeça.

Funde meus hormônios.
Refresca o corpo.
Derrete a razão.
Sacode tudo
e pousa.

Traquinagem do equilíbrio.
Delírio dos meus sonhos sóbrios.
Paisagem muscular
sobre o mar no crepúsculo.

Sublime Silhueta Que Levita.
Paira Perfeita e Pousa.
Leve Leoa.
Suave Acrobata da Selva de Pedra.
Vejo. Reparo. Viajo.

Meus rios inflamam.
Transbordo verbos profundos.
Proclamo versos profanos.
Mergulho e me afogo
em toda fotografia        
que pousa.

Tropeço

Sou servo
da escrita em verso.

Se penso
             tro
                 pe
                     ço
                           
                       e

                       d
                       e
                       s
                       a
                       b
                       o
                   
                       poesia.

Desconheço
coisa mais macia.

Talvez a pele de Luiza
pela ausência de vírgulas.

Talvez o frescor da língua
no calor do começo

ou a razão do
                   tro
                       pe
                          ço

                          que metrifica

                              a brisa.

26 de janeiro de 2016

(S)

O amor é matéria do verbo amar.

É o ato em si.

É não se conter em substantivo.

É substanciar-se
em meio a catarse
e matar-se
e ressuscitar sucessiva
e incessantemente
entre si

e o(s) outro(s)

(s)em nó(s).

20 de janeiro de 2016

Quase Quanto

Tenha sonhos quase
tão lindos quanto
seus olhos.


Vou

Sou sumo
se você me bebe
e se não me come
SUMO
evaporo se não me consome
vã mercadoria sem rumo.

Propago de graça os versos que gozo.

DESENGAIOLO

Sem meio termo. Sêmen do verbo.Sou ave dispersora.

SEMEIO.  Semeio. SEMEIO
 Suave. SOUAVE.  Suave
                VOU

E no meu voo leve
levo tudo aquilo que sou
por cada canto
dessa estratosfera.

Fera solta
em feira livre
vocifero versos mansos
só pra ver se  alcanço
seus ouvidos escorregadios
com meu poema descalço
e piso em seu peito frio de assalto
e espalho estrofes de afeto
e estraçalho as raízes desse descaso

e planto nova poesia
mesmo num terreno infértil
mesmo a quem me evita
o POUSO.

Temporal

Maria,
menina da mata,
do rio, da rocha,
do barro e do céu.

Seria pássaro aninhado
no aconchego dos teus olhos.

Viveria contigo
qualquer coisa sem regras,
sem planos e sem remorsos.

Não temeria
nem a despedida,
nem a tempestade
nem as trovoadas...

Eu te amaria, Maria,

se fosse tempo de amores.

Nosso encontro iria...
                                  protelado
                  preterido

                  semente inaugural
do pretérito futuro

sentimento sem tempo

substrato real.

Sem Telha

Estou sentado à beira da praia
num banco de madeira de um casebre.
Tenho vinte e nove anos e estou prestes
a escrever um poema de amor.

Qualquer poema que valha
minha presença calada
nesta cabana de palha.

Relembro canções incompletas.
[Centenas].
Estrelas deslizam cadências.
[Centelhas].

Desligo a lanterna
e começo o poema.
Três passos à frente
e o céu é meu teto sem telha.

Poesia sem palavra.
Versos afogados no imaginário.
Este momento faminto,
este silêncio sedento,
e a boca do mar engolindo meu vocabulário.

CONCLUA:
já que a gente estremece
COM QUALQUER LUA,
como pode a saudade ser tão redundante?

30 de dezembro de 2015

O Resto é Bobagem

Seus olhares pervertidos,
seus instantes perversos,
seus instintos gentis...
Poesia nos gestos.

Uma carta de ardor
escrita ao molho pardo
na janela de barro.

Córregos lambuzados pela pele lambida.
Mítico tratado lingüístico.
Gosto de mar.
Gosto de amor.
Desejo e sabor.

A vida é mesmo uma viagem.
Dirija seus atos,
que o gesto é bagagem.

21 de dezembro de 2015

In Off

De repente

o ar da cidade tem gosto
de repelente

e eu aposto
que só quem não sente
é o frentista do posto.



16 de dezembro de 2015

Toco

Pinto
palavras em pausa
pra lhe encher de saliva,
silêncios virgulares
no leito da leitura ativa.

Meus versos tem gula de fala.

Meus poemas tem mãos livres.

Eu escrevo com a boca

e você goza
sobre a minha
oralidade.